domingo, 15 de agosto de 2010

Como a sálvia encontrou meu paladar

Me lembro muito bem da primeira vez em que comi sálvia. Ou, pelo menos, da primeira em que a comi conscientemente. Já tinha meus quase vinte anos e fui a um restaurante italiano metido a chique num shopping. Pedi um ravioli de ricota e parmesão no molho de manteiga com sálvia. Na época, eu não sabia o que era sálvia; só sabia que era uma erva, mas desconhecia seu gosto. Da mesa onde eu estava era possível ver os cozinheiros preparando a massa fresca, e eu já comecei a imaginar o gosto fantástico que meu prato teria. Quando ele chegou, dei a primeira garfada e afirmei categoricamente: essa é a melhor massa que eu já comi. Pensava no segredo da massa fresca e imediatamente dei todos os créditos daquele sabor fantástico a ela - também era minha primeira experiência com massa fresca.

Alguns meses mais tarde viajei para Paraty, onde encontrei um restaurante/sorveteria que servia baratinho um gnocchi cuja massa era feita de ricota com espinafre, servido ao molho de manteiga com sálvia. É claro que não tive dúvidas, e mandei ver. Ao engolir a primeira garfada pensei comigo mesma: "nossa, se aquela era a melhor massa que eu já havia comido, esse definitivamente é o melhor gnocchi que já comi". E então a ficha caiu. A sálvia na manteiga é que determinava aquele gosto tão fantástico que, pela primeira vez, em Paraty, eu reconhecia como familiar.

Nunca mais abandonei a sávia. Hoje a tenho plantada entre minhas ervas preferidas. E aprendi a fazer massa fresca para poder acompanhá-la dignamente.

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