segunda-feira, 25 de abril de 2011

Batatas Gratinadas


Um dos prazeres de quem adora cozinhar é criar novas receitas, ou conseguir fazer um prato novo, que você já comeu, mas que nunca fez. E se conseguir fazer isso sem o acompanhamento de uma receita prévia, melhor ainda. Não que seja aconselhável sempre evitar olhar receitas. Elas são ótimas para os primeiros contatos com a cozinha, ou com alimentos e métodos não tão familiares. Mas há momentos em que nos deparamos com a possibilidade de produzir algo novo, e em que procurar uma receita para isso poderia ser trabalhoso – se realizada entre livros – ou desastroso – se feita na internet. Pois eu enfrentei uma situação dessas outro dia, e obtive um feliz sucesso.

Pensando no almoço de um sábado à toa, sem nada planejado com antecedência, lembrei que havia um alho-poró na geladeira, e que eu gostaria que ele tivesse um destino diferente do último alho-poró que eu havia comprado (vergonhosamente, o lixo). Além do alho-poró e dos tradicionais ovos, manteiga, farinha e leite (com os quais eu poderia fazer uma quiche, um macarrão caseiro ou um crepe), havia batatas. Resolvi buscar a suavidade, maciez e a casquinha dourada crocantes das mais perfeitas “Batatas Gratinadas com Alho-Poró”. Era a primeira vez quer eu enfrentava esse prato. Mas um pouco de experiência culinária, memória gustativa e bom senso permitiram que eu atingisse meu objetivo, e tivesse uma deliciosa refeição. Vamos à receita, para duas pessoas.

Descasque, corte em rodelas finas e pré-cozinhe duas batatas com sal. Pré-cozinhar significa lembrar que elas ainda irão ao forno e que, portanto, terminarão de cozinhar lá. Não as deixe moles demais, apenas levemente macias. Enquanto elas cozinham, lave e pique em rodelas um alho-poró inteiro, ou mais de um. Tem gente que só usa a parte verde, tem gente que só usa a branca. Eu gosto de usar tudo, quanto mais melhor. Tiro apenas as pontas das folhas soltas, que normalmente estão machucadas. A parte verde mais escura do alho-poró tem um sabor mais forte e é menos picante, ao passo que a parte branca se concentra mais no picante, e seu sabor se aproxima de algo entre uma cebola e um dente de alho. Refogue com azeite ou manteiga e um pouco de sal o seu alho-poró picado. Nessa altura talvez suas batatas já estejam boas. Escorra-as num escorredor de macarrão e deixe-as lá secando um pouco, para que o gratinado não fique aguado demais. Rale um tanto de queijo provolone e misture-o com uma caixinha de creme de leite e um pouco de leite. Tempere com pimenta do reino e sal.

Unte uma travessa com um pouco de manteiga. Espalhe o alho-poró refogado no fundo. Deposite por cima as batatas pré-cozidas de forma homogênea, procurando cobrir todo o alho-poró. Despeje sobre as batatas a mistura do queijo com o creme de leite, polvilhe um pouco mais de queijo ralado, disponha algumas fatias de presunto parma e salpique folinhas de tominho fresco por cima de tudo. Leve ao forno por aproximadamente 30 minutos. Coloque a travessa preferencialmente na parte de cima do forno, assim haverá mais casquinha crocante quando estiver pronto, sem correr o risco de queimar o fundo!

É rápido, fácil, uma refeição completa e o mais importante: fica uma delícia!


terça-feira, 19 de abril de 2011

Menu de Festa - parte 1: Patês


Eu adoro oferecer festas em casa. As nossas festas normalmente são cheias de boa comida, boa música, bons amigos e boa conversa. São quase almoços ou jantares, mas muitas vezes as pessoas comem paezinhos e comidinhas, em pé, então não dá para chamar de “jantar”. Numa festinha de outro dia, no horário de almoço, recebi bastantes elogios, então achei que o menu do dia e as receitas mereciam um post próprio. Quase tudo foi feito em casa por mim e pelo maridão. Mas como são muitas receitas, vou dividir tudo em alguns posts. Para hoje, patês.

Pães e patês nunca faltam nas reuniões aqui de casa. Em primeiro lugar porque eu adoro fazer pães; e em segundo porque adoro comer patês. Atualmente eu tenho três sabores de pães preferidos para fazer em casa: pão de alho, pão de ervas e pão de calabresa. Quanto aos patês, são vários e eu estou sempre inventando e descobrindo receitas. Vou escrever um post sobre os pães futuramente, uma vez que é uma atividade um pouco mais complicadinha, e exige toda uma explicação sobre como sovar, etc etc. Por enquanto fica a seguinte dica: encomende pães italianos na padaria Sacramento!

Patê de berinjela
(é meu preferido e procuro sempre ter um pouco dele guardado na geladeira para emergências alimentícias)

1 berinjela grande
½ pimentão amarelo
½ pimentão vermelho
1 cebola
Entre 2 e 4 tomates
Azeite e sal
Você pode variar acrescentando abobrinha e alho, por exemplo, e variando as quantidades dos legumes.

Pique todos os ingredientes. Refogue um pouco a cebola no azeite, depois acrescente cada um dos ingredientes e refogue mais um pouco, nessa ordem: berinjela, os pimentões e por fim o tomate. Sempre que achar necessário, regue com bastante azeite. Tempere com sal a gosto. É bom sempre mexer de vez em quando, e manter em fogo baixo, para não queimar o que estiver no fundo da panela.
Depois de um tempo você verá que os legumes vão murchar e vão começar a se misturar como numa pasta grosseira. Este é o ponto. Se preferir uma textura mais pastosa e com menos pedaços aparentes, acrescente um pouco de água na mistura e deixe cozinhar bem, mexendo sempre.
 
Patê de salame (receita roubada a uma amiga querida)

Uma lata de creme de leite sem soro
250g de salame fatiado ou em pedaços
Dois cubos de caldo de carne
Um copo de água quente
Um pacote de gelatina vermelha sem sabor

Bata no liquidificador a água quente, a gelatina e o caldo de carne. Aos poucos acrescente o salame e bata bem. Por fim, junte o creme de leite, bata rapidamente, despeje o líquido numa forma e leve ao gelo por algumas horas, até endurecer. Essa receita rende bastante patê. Você pode colocar numa forma grande, tipo de pudim, desenformar e servir como uma terrine, cortando em pedaços. Ou pode colocar em diversas forminhas menores.

Tapenade de azeitona preta
Um vidro de azeitona preta chilena
Um ou dois ramos de alecrim fresco
½ cabeça de alho

Tire os caroços de todas as azeitonas. Retire as folhas do alecrim do galho. Bata tudo no mixer.
Ou pique tudo muito bem com uma faca afiada.
Faz o maior sucesso!

Patê de Gorgonzola

Um pote de iogurte natural integral (eu gosto do nestlé)
Aproximadamente 300g de gorgonzola

Pique o gorgonzola em pedaços grandes e bata num processador junto com o iogurte. Ajuste a consistência acrescentando mais gorgonzola ou mais iogurte. Fica ótimo de servido ao lado de geléia de damasco, para passar junto no mesmo pão.

Patê de Ervas

Ricota
Leite
Um punhado de várias ervas frescas. Eu gosto particularmente de alecrim, salsinha, horteçã, manjericão, sálvia e tomilho.
Azeite e sal

Lave as ervas e seque-as bem com papel toalha. Bata tudo no processador, ajuste a consistência acrescentando mais ricota ou um pouquinho de leite e azeite. Tempera com sal.

Patê de Tomate Seco

Ricota
Tomate seco
sal

Bata tudo no processador. Para ajustar a consistência, acresente mais ricota ou mais azeite no qual o tomate seco vem imerso. Tempere com sal. Se você gostar de padacinhos de tomate seco no patê, pare de bater antes que a mistura fique completamente homogênea.

Patê de Provolone (receita da sogra)

300g provolone ralado
4 dentes de alho sem alma (sem aquele miolinho verde, que é a parte mais picante) amassado
1 caixa de creme de leite
Azeite até achar o ponto

Misturar todos os ingredientes e mexer até encontrar uma textura homogênea. Não precisa bater. Regular a consistência acresentando mais azeite. Não precisa temperar com sal.

domingo, 10 de abril de 2011

Uma noite na Orquestra


Um conhecido meu certa vez disse que assistir à Orquestra Sinfônica de Campinas é como torcer pela Ponte Preta. Nem sempre ganha, mas nós continuamos indo lá apoiá-la. Pois bem, na apresentação de ontem creio que tivemos uma pequena vitória. A começar pela escolha do repertório, que estava uma delícia: cinco russos de meados do século XIX, exceto pelo Khatchaturian do final.

O concerto começou com a “Abertura A Grande Páscoa Russa” de Nikolai Rimsky-Korsakov. É uma peça grandiosa e muito empolgante, mas infelizmente a orquestra ainda estava um pouco desconexa, não senti muita integração entre os naipes, e nas passagens de um tema a outro.

Já na segunda peça da noite, “Uma Noite no Monte Calvo”, de Modest Mussorgsky, com orquestração de Korsakov, a coisa mudou de figura. Parecia que uma nova orquestra tinha entrado no palco. Particular destaque para a percussão.

A terceira peça apresentada é uma de minhas músicas mais queridas, e com a qual normalmente me emociono muito. Especialmente quando assisti a performance da OSESP da versão com coro. Maravilhoso. Trata-se das “Danças Polovetzianas” de Alexander Borodin (trecho da ópera “Príncipe Igor”). Ontem a OSMC também se saiu muito bem, especialmente as madeiras, que fizeram um excelente trabalho. Um parabéns especial aos solistas de flauta, clarineta e oboé. Não fosse o mau comportamento da platéia, que não parava de cochichar durante os primeiros trinta segundos de CADA peça, eu teria os olhos marejados.

Após o intervalo foi a vez de Tchaikovsky com a “Abertura de Romeu e Julieta”. Infelizmente, um pequeno desastre. As violas estavam terrivelmente desafinadas; os violinos também estavam mal e, mais uma vez, que “salvou” a peça foram as madeiras e a percussão.

Mas na música final a orquestra recuperou sua integração – e afinação – e realizou uma execução da “Suíte Masquerade”, de Aram Ilich Khatchaturian, digna dos aplausos acalorados dos espectadores campineiros. Especialmente a Walz, a Mazurka e o Galop final foram ótimos.

Aguardo o próximo concerto nos dias 30 de abril e 01 de maio com Mozart e Schubert.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Três dias em São Paulo

Hoje eu escrevo sobre um pouco da vida fora do campo.

A idéia nua e crua de ir passar alguns dias em São Paulo frequentemente seduz qualquer um que seja apaixonado por cultura e que não more naquela cidade. O poder de imaginação sobre o que alguns dias em São Paulo podem fazer com você é grande e tende a idealizar uma cidade receptiva a o que você tem a oferecer a ela, e solidária em retribuir com tudo o que há de melhor. Afinal, lá é o lugar onde tudo o que há de melhor – em matérias que não envolvem a natureza – está, no Brasil. Ou assim se crê.

A primeira grande desilusão está em perceber que a viagem de carro normalmente é muito mais estressante e cara do que se imagina. O que para você poderia evocar um passeio agradável, ao som que você escolher, a caminho do paraíso urbano, não passa de uma rotina tediosa para a maioria dos motoristas a sua volta. Nenhum deles está interessado em saber que você mora no campo e está indo passar alguns dias agradáveis de cultura e sociedade. Para eles aquela cidade não passa de um lugar detestável, para onde eles só se dirigem diariamente por ser o único lugar onde poderiam encontrar um emprego que lhes pagassem o que consideram merecido, por suas horas insanas de trabalho no escritório frio e sóbrio, em meio ao som de carros, ônibus e sirenes que passam na avenida abaixo da janela da frente. Além disso, você se assusta a cada vez que se depara com um pedágio há 2 km, e cujo preço não era bem esse da última vez que você passou. Só em dinheiro para o pedágio, na ida e na volta, você já gastou duas entradas de cinema, uma de teatro ou um delicioso jantar no La Tartine.

Então, lembrando de sua última ida a São Paulo, e de suas surpresas na estrada, você decide ir de ônibus. Afinal, mesmo com uma linha de metrôs absolutamente ridícula quando comparada a qualquer cidade digna européia, ou a Manhattan, São Paulo ainda tem uma razoável rede de transporte público, que te permite circular pela pequena parte ao redor da Avenida Paulista, e pelo centro – que no fim e ao cabo, são os locias por onde você vai circular – além de contar com uma grande frota de táxis.

Antes de sair de casa você se imagina no ônibus. Nada melhor do que não ter que se preocupar com o trânsito. E você ainda pode ir lendo um bom livro enquanto seu corpo – quase sem que você perceba – se encaimnha para a admirável vida cultural paulistana. Ou ainda, se sua semana foi agitada, você vai dormindo e chega lá como num passe de mágica.

Pois então você chega na rodoviária e se lembra de que, é, você percebe que nem tudo é tão delicioso assim quando se trata de ir de ônibus. Você compra sua passagem e esquece de solicitar uma vaga no corredor. Só se lembra disso no momento de pisar no ônibus e percebe que sua vaga é na janela, ao lado de um grande cidadão que ocupa mais do que seu próprio acento. Na verdade ele não precisa ser tão grande assim. Os acentos é que foram feitos para pequenas moças que se dirigem para um concurso numa agência de modelos. Você se lembra de sua incontrolável claustrofobia e felizmente encontra outro local vazio para se sentar, no corredor, sem ninguém para perturbar sua agradável leitura.

Feliz com a situação que – você se ilude – “até que tem seu charme”, você saca seu livro da bolsa antes mesmo do motorista dar a partida. Dez minutos depois o ônibus já está na saída da cidade e você começa a se perguntar por que deixou seu sobretudo de lã, suas luvas, gorros e cachecóis em casa. Afinal, o termômetro do ar-condicionado do ônibus marca incríveis 15 graus, em pleno abril. Pois bem, você se encolhe toda e se concentra na leitura, que ainda está muito interessante. Mais cinco minutos e você começa a se sentir enjoado, e lembra que não se dá bem com leitura e movimento. Além disso, fica tentando descobrir de onde vem esse cheiro falso de morango de algum suposto produto de limpeza. Irritado com sigo mesmo, e se perguntando por que não veio de carro que, afinal de contas, parceia tão mais prático – agora que você está preso nesse ônibus horrível – você olha para o teto do veículo e percebe que o filtro do ar-condicionado está visível, e que sua troca deve estar  com uns três anos de atraso.

A chegada em São Paulo já se mostra deseperadora: de repente eu me vejo na rodoviária do Tietê, com uma pequena – porém pesada – mala a tira colo, que poderia estar muito mais leve se eu fosse um pouco mais sensata na hora de sair de casa. Atravessar São Paulo de metrô pode ser uma tarefa tranquila, ou uma verdadeira saga dantesca. Tudo depende de que horário estamos falando. Pois bem, eu estava no meio do rush matinal.

Trinta minutos, dois metros, muito peso e sete reais em táxi para descer a Frei Caneca depois, eu chego na minha hospedagem, louca por um sofá e um pouco de ar calmo. Mais quinze minutos e eu estou de volta na Paulista, agora leve e feliz da vida, entrando verdadeiramente na São Paulo que eu queria.



As coisas boas de São Paulo: um café no viena da Livraria Cultura do Conjunto Nacional num clima intelecto-liberal (um misto de intelectuais com trabalhadores liberais em reuniões descontraídas ou no meio de uma edição de um vídeo no notebook). Um passeio no MASP gratuitamente só para matar a saudade do acervo permanente. Andar pela Paulista e descer a Augusta à noite, sem medo de ser feliz. Pegar um cinema em qualquer canto da Paulista, e poder ver um filme que você sabe que não vai passar em Campinas. Encontrar amigos queridos que nunca conseguem te visitar – afinal, sair de SP é inconcebível para eles. Chegar num lugar mais rápido de ônibus do que chegaria de carro, graças ao corredor. De repente encontrar paz em algum lugar que não parece dentro daquela bagunça.

Entretanto, depois de três dias intensos nessa cidade louca, o que me resta: dor de cabeça, muita dor nas costas, dor no pescoço; reflexões mil sobre como é que vinte milhões de pessoas aguentam viver nessa insanidade (pensando nos olhos vermelhos e inchados de todos os que pegaram metro comigo até a rodoviária na quinta à noite); um tanto de inteligência e sabedoria a mais, adquiridas nas palestras que, no entanto, poderiam ter sido ministradas no sossego do IFCH; e uma resolução de quem fica um ano mais velha: depois dos vinte e quatro, eu nunca mais passo perrengue! Já aprendi a não passar no Rio, agora SP também entrou para a lista das interdições. Não! Não. Não gosto de aventuras na floresta, caminhadas, trilhas, esforço físico além do normal, então também não gosto dele na cidade, na bagunça da poluição, no calor ou no frio, ou na chuva de SP. Não. Se tiver que ir para SP será de carro, fora da hora do rush, nem que eu tenha que esperar por duas horas numa padaria qualquer tomando um café, lendo um bom livro, ou escrevendo.