sábado, 26 de dezembro de 2009

Insônia

Insônia infernal! Às 19h estava caindo de sono e fui acusada de preconceituosa contra o país de minha própria mãe, Portugal, porque deixei um filme português de 3h para ir dormir. E não consegui, fiquei lendo. Agora estou deitada há mais de hora e não há nada que faça meus olhos fecharem! Porque dormimos na hora de prestar atenção e inventamos coisas, história, temos idéias, na hora de dormir? Haja injustiça. E amanhã tenho que acordar 5h da manhã - daqui a 3h.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Enfim, Rio!

Há algum tempo não posto nada. Andei sem muita inspiração e um pouco cansada de cozinha diária o dia todo. Agora estou no Rio para o natal, e já entrei em nossa rotina carioca!

Primeira parada: centro da cidade. Deixamos o carro no Flamengo e pegamos o metrô (com ar-condicionado) até a Cinelândia. Saindo do sub-solo já abro um sorriso: estou de frente para o Teatro Municipal com a reforma quase completa, no preparo para a comemoração do centenário de inauguração. Está tão limpinho e renovado, mas já imaginamos que pouco depois da re-inauguração algum engraçadinho já o terá pichado.

Vamos direto para o Belas Artes, mas infelizmente a parte de arte do século XIX ainda está em restauro. Quando será que poderemos admirar Victor Meirelles e Pedro Américo novamente?

Algumas revisitas ao século XX e seguimos para a livraria Leonardo DaVinci - onde constato que o livro que eu namoro a mais de ano está bem fora do meu orçamento - e nos empanturramos com aquelas estantes do chão ao teto com inúmeras obras; um acervo impressionante. Logo na frente, o sebo Berinjela.

A fome aperta e seguimos a passos firmes para a Colombo. Acho que enquanto vier para o Rio não deixarei de visitar a Colombo pelo menos uma vez a cada viagem. É um recanto absolutamente reconfortante dentro daquele centro agitado, quente, cheio e melado, de que tanto gostamos. Mas entrar na Colombo é sempre aliviante. Parece que finalmente viajamos àquele tempo ao qual sentimos que originalmente pertencemos. E cada bolinho de bacalhau devidamente encharcado de azeite confirma isso. Bolinhos de bacalhau, pastel de nata, duas latas de leque para a viagem e retornamos ao centro dos camelos e do pinga-pinga dos ar-condicionados. Vamos até o enorme sebo Letra Viva, na rua Camões, onde há pausa para um descanso em umadas poltronas de leitura. Por fim, uma caminhada na rua da Carioca.

No largo da Carioca pegamos o metrô, voltamos para o Flamengo e enfrentamos o trânsito do rush em meio às montanhas eao sol poente do Rio - bem melhor que qualquer trânsito em São Paulo.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Mosquitinhos sanguinolentos

Para não faltar a parte de "vida no campo" fica aqui registrada minha ira contra os mosquitinhos!Pior que pernilongos são esses tais borrachudos, menores que as mosquinhas de banana eles chegam escondidos e começam a picar sem que sintamos nada. Só depois de um tempos de banquete sangüíneo é que damos um pulo da cadeira porque alguma parte de nosso corpos sofreu uma pequena agulhada coçante. E eles não desistem de você. Nada barra esses malditos! Nem vela de citronela, nem repelente e nem se quer vento de ventilador. Cabe a você ficar se mexendo de um lado pro outro enquanto lê, vê filme, fica na internet e até enquanto cozinha. A fauna brasileira não precisava ser tão rica assim!

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Seja fresca: coma somente pasta fresca!

Descobri uma desvantagem em se fazer massa de macarrão fresca: você simplesmente torna-se tão fresca quanto a massa, em relação a comer massas não frescas. Meu almoço de hoje foi um fiasco. Minha mãe faz um delicioso espaguete com atum. A última vez que fiz esse prato para mim, foi um desastre. Hoje resolvi enfrentá-lo novamente. O mais decepcionante é que o prato é absolutamente simples; o que acabou acarretando em seu desastre pois, por sua simplicidade, da última vez que o fizera acabei subestimando-o, cozinhando de menos e comendo algo de gosto terrível. Hoje, o desastre se deu por outra natureza. Dei ao "molho" de atum a devida atenção e o fiz da melhor maneira possível, obtendo um resultado aprovadíssimo. Entretanto, quem não cumpriu seu papel foi a própria massa. Eu precisava de um almoço rápido, e o que obtive foi cerca de 30 minutos entre pôr a água para ferver e o macarrão estar cozido. Se eu tivesse juntado um ovo a 100g de farinha, tivesse aberto, cortado e cozido a massa, teria terminado tudo nos mesmos 30 minutos, se não antes, e comido algo incomparável!

Já completamente irritada com a demora, pensando que deveria ter feito a massa fresca e, no entanto, absolutamente faminta, pois deixara passar o café-da-manhã, quase não engoli a primeira garfada. Pensei comigo: "não é que o Jeffrey Steingarten tem razão: algumas coisas simplesmente não merecem ser comidas!". Mas logo pensei também na fome que há no mundo... Não poderia rejeitar uma refeição simplesmente porque ela estava aceitável - ou pouco abaixo disso. Continuei a mastigar e já preparava a próxima garfada. Engoli com dificuldade mais uns três ou quatro pedaços, depois perdi o apetite e guardei meu almoço. Quem sabe curtindo na geladeira ele melhore? Dificilmente...

Intermezzo... Entre almoço e janta tomei meu primeiro contato com E.T, de Spielberg. Finalmente vi o aclamado filme, e não me sinto mais tão alheia assim ao resto do mundo. Como uma boa espectadora, chorei no final.

Para jantar faríamos algo simples como uma sopa. Lembrei-me de um creme de aspargo de um livro do Jamie Oliver, Jamie Oliver em Casa, que eu vira outro dia quando procurava receitas com aspargos. Naquele dia, não tinha salsão nem alho-poró, que a receita pede. Fiz com batata. Hoje, não tinha o próprio aspargo. Fiz uma sopa deliciosa de salsão e alho-poró. Pela combinação de ingredientes "fortes", imaginei que ficaria um pouco picante, ardido, enjoativo. Muito pelo contrário. O sabor final é fantástico e adquire algo do frescor do salsão. Para guarnecer: uma torrada sobre a sopa, queijo parmesão e salsinha picada. Infalível!

domingo, 13 de dezembro de 2009

Algumas experimentações culinárias

Nesses últimos dias fiz alguns pratos pela primeira vez.

Esperava uma grande visita familiar para sábado e decidimos que faríamos Boeuf Bourgignon que, segundo a Julie Powell, é um dos melhores pratos para se fazer e impressionar pela primeira vez uma visita. E funciona! O único problema do prato é o tempo de preparação. Começamos tudo na sexta à noite. É um bom prato para se fazer para poucas pessoas. Do contrário, passa-se horas a fio a picar legumes. E no dia de servir, o procedimento envolve uma série de frituras, fervuras, assadas e cozidas. A cada momento deve-se colocar ou retirar as carnes, legumes, escorrer, secar bem para depois voltar tudo para a mesma panela, e depois no forno, depois no fogo, e de volta para o forno, depois reduz no fogo e assim por diante. Na próxima vez em que o fizer reduzirei a quantidade de operações. Espero que fique tão bom quanto.

Nos dias antecedentes ao Boeuf não me contive a experimentar novas receitas de doces. Primeiro tentei um sorteve de melão. Primeiro sorvete da minha vida. Tinha lido um artigo no Homem que comeu de tudo e encontrara, por coincidência, essa receita no Cozinha regional francesa, de Elisabeth David, quando procurava por receitas com melão. O segredo em que Steingarten insiste incalsavelmente é que, para um bom sorvete, sem sorveteira, essencial é mexer a mistura a cada 30 ou 40 minutos, enquanto ela congela no congelador. No começo, temi que não desse certo e que os gostos de gemas e de creme de leite (que sobressaiam na massa à temperatura ambiente) predominassem no sorvete. Mas com o congelamento o gosto fica delicado e o aroma de melão fornece uma experiência única.

Na noite de sexta, como sobremesa do nosso medíocre, porém delicioso, jantar de nuggets congelados, pouco antes de começarmos a preparação do Boeuf, fiz meus primeiros Petit Gateaus. A não ser pela torta de limão que fiz no dia seguinte, poucas são as sobremesas mais fáceis, rápidas e gostosas que um Petit Gateau. Em poucos minutos derreti chocolate com manteiga, bati gemas e açucar, juntei tudo e acrescentei farinha. Untei cinco forminhas e assei por mais poucos oito minutos. O único problema da receita: uma receita era para 6 pessoas. Fiz meia receita que rendeu 5 forminhas cheias, sendo que uma só é grande o suficiente para uma pessoa. Apesar de amarmos chocolate, não somos trogloditas! Agora faço o infame 1/4 de receita, com um único ovo.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Nem tudo é gargalhada

Semana passada fomos assistir a peça Rainhas, inspirada no texto de Schiller, a partir das histórias das rainhas Elisabeth I e Maria Stuart. A peça é ótima e, inteligentemente, mescla momentos cômicos com outros de drama. Isso porque na verdade o enredo é o conflito de duas atrizes num momento de crise pessoal. No palco elas vão mostrando como a vida de hoje - principalmente a dos atores - é uma correria insana. Como eles têm que se submeter a tudo quanto é tipo de trabalho, têm que estar sempre correndo atrás de projetos e editais para submeter a concursos e concorrer a verba para suas peças; estão sempre envolvidos em mais de um trabalho ao mesmo tempo. A peça é um drama. E um drama pesado, pois trata desses assuntos - que nós estamos cansados de saber - em seu lado cômico, e faz a platéia rir em diversos momentos. A única coisa, é que boa parte não percebe que está rindo de sua própria tristeza.

Nesse quesito, a platéia se comportou mal, achando que estava tudo ótimo. Tirando os momentos realmente muito tensos, com luz baixa, em que ninguém ousava dar uma risada, a peça toda foi um festival de gargalhadas fora-de-hora. Não que não houvesse momentos de risada sonora, e outros tantos momentos de um leve sorriso para si mesmo. Mas tenho chegado à conclusão nesses últimos anos de que as platéias estão emburrecendo com a quantidade incansável de peças-besteiróis e a atual moda do stand-up comedy. A população tem ido mais ao teatro? Sim, isso é um fato. Mas tem desaprendido como se assiste. Não há mais uma peça em que, logo no começo, alguém não comece a rir sozinho. E o restante, não querendo ficar "pra trás", ri também. Os atores perdem a deixa, ficam com cara de "do que que eles estão rindo", enquanto tentam recuperar sua fala.

Isso também é válido para filmes. Num curso que acompanhei esse semestre, alunos da unicamp se descabelaram de rir em filmes como If ou Weekend à francesa, que de cômico não têm nada. Situações surreais, oníricas ou absurdas não são NECESSARIAMENTE engraçadas!

Não estou pondo um fim à comédia. Eu adoro comédia. Adoro rir alto de coisas engraçadas. E não acho que filmes bons têm que ser sérios. Claro que não! Mas há filmes engraçados, e outros não!. Há filmes graciosos em que, no máximo, se dá um sorriso e um leve soltar de ar; e há outros em que se perde a próxima piada porque estava rindo da primeira. Não podemos deixar que tudo vire um enorme pool de besteiróis malucos, só porque você não entendeu o filme!

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Inquietações do século XX

Comecei o dia com uma aula sobre a evolução a partir da alta sociedade parisiense até as mais angustiantes representações européias durante a primeira guerra. Como ponto de partida, uma carta de um jovem de 26 anos, em 1907, já desiludido com o fato de não ter conseguido realizar seus impulsos de juventude (planos e possibilidades que tinha aos 19 anos). Me pareceu o mais belo ápice de um romantismo deseperado que vai do topo do mundo - quando se tem 19 anos e nenhum pudor em enfrentar qualquer assunto, planejar escrever e realizar mundo e fundos - ao fundo do poço, quando já se passou a metade dos vinte, perdeu-se a completa liberdade de tratar de assuntos complexos (uma vez que se adquiriu mais conhecimento e se tornou mais crítico em relação ao que uma mente jovem pode pensar) e se percebe que boa parte dos planos primeiros é quase irrealizável.

Disso evolui que quase todos os pintores da época sofreram de angústia semelhante. O advento da guerra pode transformar um verdadeiro dande num resto de homem em sofrimento, como acontece com os auto-retratos de Max Beckmann. A guerra também atrai jovens artistas investigativos, sedentos de presenciar a morte de perto, de ver um corpo baleado desmoronar ao seu lado. As obras vão ficando tão densas, deformadas, ríspidas, com o correr da década, que é preciso ter muita centralidade emocional para conseguir trabalhar com esse ambiente. Eu adoro, mas por enquanto prefiro permanecer no Renascimento.

Durante a tarde, que mais parecia uma escada de transição para o gran finale da noite, fui escrevendo um trabalho sobre Os Retirantes, de Portinari, tentando imaginar que relações esse quadro poderia tecer com o riquíssimo ambiente das vanguardas russas, ou com um pintor variado como Matisse, ou ainda com a primeira produção do Vera Cruz, no Brasil, ou com uma peça performática de Stravinsky. É, não foi fácil, mas deveras interessante, poder tentar resumir boa parte de um século louco e cosmopolita em poucas páginas.

Como disse, a noite teve mesmo um belo fim, digno de última aula do semestre. Assiti pela primeira vez 2001: uma odisséia no espaço, e não poderia ter melhor impressão do filme. A cada cena sem diálogo meus olhos se encantavam, grudavam-se na tela, maravlilhavam-se com a inventividade desse diretor, que faz das músicas um ballet, uma descoberta, uma realização. Não é um filme longo, parado e cansativo, como ouço dizerem muitas vezes. É uma reunião de belas imagens em encadeamentos sublimes, com uma história que intermedia tudo. Uma história sem sentido, sim. Mas que fala à natureza humana. Cada um de nós sente que o filme nos diz algo sobre nós mesmos. Algo dos medos que enfrentamos, das incertezas, angústias; e do que é belo. Mas não podemos traduzir isso em palavras. Kubrick conseguiu traduzir em imagem e som.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

O que nos faz engordar?

Como já mencionei anteriormente, tenho lido ardentemente O Homem que comeu de tudo, de Jeffrey Steingarten. Em dois artigos ele expõe alguns dados e idéias que têm pairado em minha cabeça nas últimas semanas. No primeiro deles, "Por que os franceses não morrem como moscas?" - que foi uma má tradução da expressão em inglês "die like flies" -, Steingarten aponta alguns estudos que revelam o que se explica, conhecidamente, como o "paradoxo francês". Os fatos apontados são que os franceses, apesar de comerem muita gordura saturada - a chamada gordura ruim -, proveniente de gordura animal (manteiga, banha etc), têm níveis de colesterol razoavelmente semelhantes aos dos norte-americanos, mas sofrem muito menos de ataques cardíacos, diabetes e outras doenças ligadas à má alimentação. Uma das possiveis explicações a que chegaram as pesquisas apresentadas por Steingarten apontam o consumo de alcóol (principalmente através do vinho) como um dos atenuantes entre a gordura e os enfartes.

O segundo artigo que me vem à cabeça é o "Dor sem ganho", em que Steingarten questiona por que o governo americano faz tanta questão de colocar a gordura entre os principais vilões da comida. Em outros tantos artigos o crítico americano segue elogiando pratos e mais pratos, refeições simples ou complexas, leves ou extremamente gordurosas.

Eu, que no dia-a-dia como, imagino, pouquíssima gordura, principalmente a animal, me vi interessada em provar um ou outro novo prato que contivesse mais bacon, carnes de porco ou intensas quantidades de manteiga. Hoje, para o almoço, preparei um delicioso prato de salsão gratinado com bacon e queijo parmesão - um verdadeiro assassino do ponto de vista dos nutricionistas. Peguei essa receita do livro de Marcella Hazan - que andei explorando ontem à noite, após a indicação de Steingarten - e fiquei tentada em experimentá-la. A primeira garfada na boca foi decisiva para que um pensamento me viésse à cabeça: diante de um sabor tão delicado (isso vindo de mim, que sempre detestei bacon por seu gosto "forte"), regado a cebola e manteiga suaves, adornando o frescor do salsão macio cozido, como é que alguém poderia imaginar que aquilo faz mal à saúde?

Todos conhecemos bem o ditado de que o que é bom, ou engorda, ou faz mal, ou é proibido. Até hoje eu concordei com ele. A partir de agora, não mais. Não sou cientista, pesquisadora de saúde, nem pretendo ser, mas não posso deixar de pensar, como historiadora no mínimo, que se a gordura animal nos fizesse tão mal como se tem feito crer, nossos antepassados já teriam deixado de comê-la. Isso também me lembra o livrinho de Michael Pollan, Em defesa da comida, em que ele defende que as dietas tradicionais (leia-se, as comidas tradicionais de cada região) são, certamente, as mais saudáveis. Elas foram eleitas, selecionadas, testadas e praticadas por gerações atrás de gerações. E boa parte dessas receitas (no caso brasileiro podemos voltar o olhar principalmente às francesa, espanhola, portuguesa e italiana) envolve grandes quantidades de gordura. Seja animal ou vegetal.

Enquanto saboreava meu mais novo prato cotidiano (o salsão de hoje acompanhado por um frango frito/cozido em boa quantidade de manteiga e suco de limão), concluí que a única comida que faz mal de verdade, fora quase qualquer coisa artificial, é aquela que é comida sem desejo pelo corpo. Seja ingerida sem vontade, sem prazer, sob culpa, com pressa, mecanicamente, por gula, indevidamente saboreada, com desgosto e, até mesmo, em excesso (um excesso indesejado). Imagino que nosso cérebro, em sua comunicação intensa com o corpo, deve compreender que qualquer comida ingerida de uma dessas formas citadas, não é bem vinda pelo corpo. Portanto, o cérebro deve reenviar ao corpo algum tipo de mensagem dizendo que aquela comida não deve ser digerida corretamente, da maneira usual, ou da melhor maneira. O que acaba levando à produção de matérias corporais indesejadas - as famosas gordurinhas.

Espero que minha teoria criada numa epifania gastronômica esteja certa, e um dia seja revelada por algum seríssimo estudo de uma grande universidade americana (porque então os brasileiros darão mais valor a ela), pois ainda que eu adore saladas e praticamente qualquer coisa cozida em azeite, não posso passar a vida deixando de lado a manteiga e boa parte das sobremesas mais deliciosas, que são as mais cremosas.

Teremos inverno nesse natal?

A forte e constante chuva com que o dia amanheceu hoje demorou a me inspirar a acordar, o que só foi possível, após três infrutíferas tentativas, as 10h da manhã. Esse frio todo - uns 17ºC - definitivamente não faz parte do verão brasileiro. O pessoal de Copenhagen podia usar esse exemplo para enfatizar a importância do encontro climático! Mas como somos brasileiros que não gostamos do intenso sol batendo forte 360 dias por ano em nossas cabeças, aproveitamos o pequeno inverno fora de época para nos encolhermos sob calças de moleton e edredons, e para tomar um delicioso chá-das-cinco com pão caseiro, queijo brie e geléiade framboesa. Será que teremos inverno nesse natal?

Esse foi nosso lanche de ontem. Necessário após o almoço levíssimo de pasta feita em casa, com uma gema a mais que uma clara, e passada na manteiga com a sálvia recém colhida do quintal. De sobremesa, um creme de morango escolhido no livro Cozinha Regional Francesa, de Elisabeth David. O livro é bastante interessante, tem uma boa introdução sobre as experiências dessa inglesa em suas viagens pela França, e muitas, muitas receitas. Entretanto, esse creme não foi a melhor delas. Pouco depois de fazer a massa, mas antes de preparar o almoço, bati uma lata de creme de leite, e não aconteceu nada, a consistência permaneceu a mesma. Como a receita não dizia o que aconteceria com a consistência, juntei logo a clara batida em neve que sobrara da massa de macarrão. Também não houve muita supresa ali. Juntei a poupa de morangos batidos no processador e passados pela peneira e 3 colheres de açucar refinado. No fim obtive um creme que poderia ter sido todo mexido a mão com uma colher ou com batedores manuais. Deixei o creme na geladeira por cerca de 1h, 1h30, até que tivéssemos terminado o almoço, esperando que algum tipo de solidificação ocorresse. Mas não houve nem uma mudancinha se quer. Como era saboroso, comemos o creme assim mesmo, mas não acho que farei de novo essa sobremesa, a não ser como recheio de algum bolo.

Para a noite foi meu namorado quem pegou na cozinha, e fez suas deliciosas bruscchetas. Vimos no Fundamentos da Cozinha Italiana Clássica, deMarcella Hazan - uma reedição e ampliação de seus dois primeiros livros - que uma brusccheta é pura e simplesmente uma torrada. Tradicionalmente elas são torradas com um pouco de alho passado no pão, antes de ir para o forno, e com um pouco de azeite e sal, talvez pimenta, salpicados. A brusccheta que conhecemos por aqui é na verdade uma variação com tomate. Acrescentam-se tomates e manjericão. Aqui em casa, acrescentam-se também azeitonas pretas, alho picadinho e queijo parmesão ralado, e dispensa-se o sal. Come-se acompanhado por um bom vinho tinto.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Três experiências culinárias e um bom concerto

Ontem pela manhã continuei a devorar minha mais recente obsessão: o livro O Homem que comeu de tudo, de Jeffrey Steingarten. Leio o livro com um sorriso constante, e eventuais risadas sonoras, de acordo com a graça dos artigos. É brilhante como, a cada artigo, conhecemos novas possibilidades gastronômicas, novas aventuras em viagens pelo vale do Loir, ou pelo Piemonte, em busca das mais perfeitas trufas brancas. E ainda, por vezes me vejo inicialmente desconfiada, e depois supresa ao ler artigos que elogiam o ketchup ou batatas chips fritas em gordura artificial. Esse homem não enfrentou apenas suas fobia com mariscos, sobremesas indianas ou insetos; ele também tem a coragem que falta a muitos dos mais renomados críticos gastronômicos ocidentais, de assumir seu gosto por porcariadas as mais diversas, cheias das difamadas gorduras, açucares e farinhas refinadas e adoçantes, acidulantes, corantes etc.

E terminando cada artigo querendo começar o próximo, e a pausa para o toillet vai ficando cada vez mais necessária e distante. Apesar de falar de comida, esquecemos de comer. Mas quando enfim conseguimos largar o livro, a primeira coisa que faço é pensar em qual vai ser minha próxima e magnífica refeição, digna dos comentários de Steingarten.

Foi assim que me inspirei para preparar o peixe do almoço. Descansados por alguns minutos numa mistura de ervas, alho e sal masserados num pequeno almofariz Le Creuset, adicionados de suco de um limão e o dobro de azeite, dois filés de linguado foram "fritos" por cerca de dez minutos. Para acompanhar, um tomate cortado ao meio e assado no forno, junto com algumas chalotas sem cascas, também cortadas ao meio. Para completar, uma batata descascada, cozida e frita com azeite e alecrim, para trazer a alegria final ao prato. Rasultado final: delícia de almoço!

Como interlúdio entre as duas refeições do dia, abandonamos os cachorros em casa e fomos a São Paulo para o nosso último concerto da temporada 2009: Quartetos de Cordas de Villa Lobos, nº 5, e Shubert, nº 15 em sol maior. Para mim, foi a primeira audição de ambos. O Quarteto Osesp, como sempre, estava maravilhoso. Apesar de terem carregado um pouco nos fortíssimos, o que gerou sons ácidos, ambas as peças foram muito empolgantes e bem manejadas no diálogo delicadeza/intensidade. A de Shubert ainda mais, uma vez que a de Villa Lobos parecia um amontoado de colagens musicais.

Para o jantar preparamos uma boa sopa de cebola francesa, daquela que se põe uma torrada e queijo na cumbuquinha, ao final, sobre a sopa, e se leva ao forno. Exceto que não levamos ao forno - já estava tarde e ainda queríamos ver Saneamento Básico, de Jorge Furtado. Pouco antes de começar o filme, preparei rapidamente uma massa de pão branco da fazenda (basicamente, com um pouco de manteiga) e fui trabalhando-o de tempos em tempos, de acordo com o que pedia a receita, mediante pequenas pausas no filme. 24h30 o pão estava pronto e ótimo. Só faltou um pouco de sal, mas fui dormir contente. Isso porque estou a uma semana tentando finalizar um pão, com fermento feito em casa, a partir de indicações de Steingarten. O fermento deu certo, mas não o pão. Ontem apelei para o fermento industrial, mesmo.

E, por sinal, o filme é uma graça. Parece um pouco caseiro, como o filme que as personagens tentam fazer dentro-do-filme, e contem pitadas de um humor inocente muito gracioso, longe dos famosos pastelões ou apelos de humor idiota de alguns da indústria norte americana, ou da própria globo filmes. Vale a pena!

De volta

Da primeira à segundapostagem se passaram cerca de 13 meses. Isso não parece configurar o mais assíduo dos blogueiros, mas ainda há tempo de mudar. Sempre há. Inspiradapor uma mulher que aprendeu a cozinhar aos 40 anos, e que revolucionou a cozinha americana, e por outra que, aos trinta, tinha uma vida empacada e conseguiu sair do zero ao sucesso, decidi retomar as publicações por aqui. Afinal, de arte, cozinha e vida no campo sempre há muito o que dizer. Assim esperamos!