quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Nem tudo é gargalhada

Semana passada fomos assistir a peça Rainhas, inspirada no texto de Schiller, a partir das histórias das rainhas Elisabeth I e Maria Stuart. A peça é ótima e, inteligentemente, mescla momentos cômicos com outros de drama. Isso porque na verdade o enredo é o conflito de duas atrizes num momento de crise pessoal. No palco elas vão mostrando como a vida de hoje - principalmente a dos atores - é uma correria insana. Como eles têm que se submeter a tudo quanto é tipo de trabalho, têm que estar sempre correndo atrás de projetos e editais para submeter a concursos e concorrer a verba para suas peças; estão sempre envolvidos em mais de um trabalho ao mesmo tempo. A peça é um drama. E um drama pesado, pois trata desses assuntos - que nós estamos cansados de saber - em seu lado cômico, e faz a platéia rir em diversos momentos. A única coisa, é que boa parte não percebe que está rindo de sua própria tristeza.

Nesse quesito, a platéia se comportou mal, achando que estava tudo ótimo. Tirando os momentos realmente muito tensos, com luz baixa, em que ninguém ousava dar uma risada, a peça toda foi um festival de gargalhadas fora-de-hora. Não que não houvesse momentos de risada sonora, e outros tantos momentos de um leve sorriso para si mesmo. Mas tenho chegado à conclusão nesses últimos anos de que as platéias estão emburrecendo com a quantidade incansável de peças-besteiróis e a atual moda do stand-up comedy. A população tem ido mais ao teatro? Sim, isso é um fato. Mas tem desaprendido como se assiste. Não há mais uma peça em que, logo no começo, alguém não comece a rir sozinho. E o restante, não querendo ficar "pra trás", ri também. Os atores perdem a deixa, ficam com cara de "do que que eles estão rindo", enquanto tentam recuperar sua fala.

Isso também é válido para filmes. Num curso que acompanhei esse semestre, alunos da unicamp se descabelaram de rir em filmes como If ou Weekend à francesa, que de cômico não têm nada. Situações surreais, oníricas ou absurdas não são NECESSARIAMENTE engraçadas!

Não estou pondo um fim à comédia. Eu adoro comédia. Adoro rir alto de coisas engraçadas. E não acho que filmes bons têm que ser sérios. Claro que não! Mas há filmes engraçados, e outros não!. Há filmes graciosos em que, no máximo, se dá um sorriso e um leve soltar de ar; e há outros em que se perde a próxima piada porque estava rindo da primeira. Não podemos deixar que tudo vire um enorme pool de besteiróis malucos, só porque você não entendeu o filme!

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