terça-feira, 8 de dezembro de 2009

O que nos faz engordar?

Como já mencionei anteriormente, tenho lido ardentemente O Homem que comeu de tudo, de Jeffrey Steingarten. Em dois artigos ele expõe alguns dados e idéias que têm pairado em minha cabeça nas últimas semanas. No primeiro deles, "Por que os franceses não morrem como moscas?" - que foi uma má tradução da expressão em inglês "die like flies" -, Steingarten aponta alguns estudos que revelam o que se explica, conhecidamente, como o "paradoxo francês". Os fatos apontados são que os franceses, apesar de comerem muita gordura saturada - a chamada gordura ruim -, proveniente de gordura animal (manteiga, banha etc), têm níveis de colesterol razoavelmente semelhantes aos dos norte-americanos, mas sofrem muito menos de ataques cardíacos, diabetes e outras doenças ligadas à má alimentação. Uma das possiveis explicações a que chegaram as pesquisas apresentadas por Steingarten apontam o consumo de alcóol (principalmente através do vinho) como um dos atenuantes entre a gordura e os enfartes.

O segundo artigo que me vem à cabeça é o "Dor sem ganho", em que Steingarten questiona por que o governo americano faz tanta questão de colocar a gordura entre os principais vilões da comida. Em outros tantos artigos o crítico americano segue elogiando pratos e mais pratos, refeições simples ou complexas, leves ou extremamente gordurosas.

Eu, que no dia-a-dia como, imagino, pouquíssima gordura, principalmente a animal, me vi interessada em provar um ou outro novo prato que contivesse mais bacon, carnes de porco ou intensas quantidades de manteiga. Hoje, para o almoço, preparei um delicioso prato de salsão gratinado com bacon e queijo parmesão - um verdadeiro assassino do ponto de vista dos nutricionistas. Peguei essa receita do livro de Marcella Hazan - que andei explorando ontem à noite, após a indicação de Steingarten - e fiquei tentada em experimentá-la. A primeira garfada na boca foi decisiva para que um pensamento me viésse à cabeça: diante de um sabor tão delicado (isso vindo de mim, que sempre detestei bacon por seu gosto "forte"), regado a cebola e manteiga suaves, adornando o frescor do salsão macio cozido, como é que alguém poderia imaginar que aquilo faz mal à saúde?

Todos conhecemos bem o ditado de que o que é bom, ou engorda, ou faz mal, ou é proibido. Até hoje eu concordei com ele. A partir de agora, não mais. Não sou cientista, pesquisadora de saúde, nem pretendo ser, mas não posso deixar de pensar, como historiadora no mínimo, que se a gordura animal nos fizesse tão mal como se tem feito crer, nossos antepassados já teriam deixado de comê-la. Isso também me lembra o livrinho de Michael Pollan, Em defesa da comida, em que ele defende que as dietas tradicionais (leia-se, as comidas tradicionais de cada região) são, certamente, as mais saudáveis. Elas foram eleitas, selecionadas, testadas e praticadas por gerações atrás de gerações. E boa parte dessas receitas (no caso brasileiro podemos voltar o olhar principalmente às francesa, espanhola, portuguesa e italiana) envolve grandes quantidades de gordura. Seja animal ou vegetal.

Enquanto saboreava meu mais novo prato cotidiano (o salsão de hoje acompanhado por um frango frito/cozido em boa quantidade de manteiga e suco de limão), concluí que a única comida que faz mal de verdade, fora quase qualquer coisa artificial, é aquela que é comida sem desejo pelo corpo. Seja ingerida sem vontade, sem prazer, sob culpa, com pressa, mecanicamente, por gula, indevidamente saboreada, com desgosto e, até mesmo, em excesso (um excesso indesejado). Imagino que nosso cérebro, em sua comunicação intensa com o corpo, deve compreender que qualquer comida ingerida de uma dessas formas citadas, não é bem vinda pelo corpo. Portanto, o cérebro deve reenviar ao corpo algum tipo de mensagem dizendo que aquela comida não deve ser digerida corretamente, da maneira usual, ou da melhor maneira. O que acaba levando à produção de matérias corporais indesejadas - as famosas gordurinhas.

Espero que minha teoria criada numa epifania gastronômica esteja certa, e um dia seja revelada por algum seríssimo estudo de uma grande universidade americana (porque então os brasileiros darão mais valor a ela), pois ainda que eu adore saladas e praticamente qualquer coisa cozida em azeite, não posso passar a vida deixando de lado a manteiga e boa parte das sobremesas mais deliciosas, que são as mais cremosas.

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